Os nossos demónios
Por Alexandre Honrado
Deram-me a ler, por imposição, por obrigação, O Método. Uma obra fundamental para quem estuda e quer estudar. E li-o com prazer inesperado.
A autoria do livro é do pensador e sociólogo francês Edgar Morin, cujo pensamento, metódico, obviamente, se dedicou a temas tão diversos como o Direito, a História, a Geografia, a Filosofia, a Sociologia e a Epistemologia. Tinha formações diversas e aparentemente um domínio incomparável sobre as matérias. Assinava Edgar Morin, afinal o pseudónimo de Edgar Nahoum. Nas enciclopédias, materiais ou virtuais, aparece como antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita. Foi pesquisador emérito do CNRS (o Centre National de la Recherche Scientifique, mais conhecido pela sigla CNRS, e que é “o maior órgão público de pesquisa científica da França e uma das mais importantes instituições de pesquisa do mundo”). Morin dedicou-se ao estudo da educação e referia o ser humano como o “fruto da vida natural e da cultura”.
Nesta dualidade construía a sua ideia de Educação, pensando no que ela podia ser em tempos futuros. Defendia o pensamento integral, capaz de fazer de cada um de nós a entender não só o planeta como Universo e o universal.
Não deixaria de ser uma utopia, bem alicerçada e melhor defendida teoricamente.
Não sei para que digo isto tudo, aliás há melhor do que isto nas páginas da internet, digo-o talvez para dizer que Morin escreveu uma obra que me parece fundamental, não sendo nenhuma da mais populares da sua autoria: Os Meus Demónios. Nenhum título parece tão bem empregue nos dias de hoje e muitos de nós talvez pudessem acrescentar ao livro capítulos inteiros das suas demoníacas aflições. Todos temos os nossos demónios, mesmo os que não creem em deuses nem em diabos. Somos fragmentados: o que nos é exterior ocupa o que no interior devia ser pacificado e o nosso destino é sempre um desafio.
Trago ao meu verão mais do que o que temo – e tanto é, do que vou vendo nas notícias, no mundo à minha volta, ao estremecimento do País que amo a resvalar para a mais pura idiotice, subordinando-se a imaginários de assassinos e extremistas – , trago Os Meus Demónios como leitura acertada e ávida.
Mito, utopia e realidade: as três vertentes da análise, provam o que sempre digo: todos somos imaginário, realidade e simbologia, e a única antropologia possível é a que experienciamos na nossa própria época, distinguindo-nos dos outros e todavia sendo neles e com eles.
Há uma forma de evitar os nossos demónios. Vencer no braço de ferro aqueles que nos querem diabolizar a vida, o tempo, a história.
É uma guerra terrível, mas temos a força das alianças que fazemos e fizermos com os nossos semelhantes.
.
Pode ler (aqui) todos os artigos de Alexandre Honrado